quinta-feira, 8 de maio de 2008

Até onde o jornalista pode ir para conseguir uma reportagem?

A pergunta foi lançada na última Newsletter da Escola de Comunicação: casos como a prisão do jornalista Roberto Cabrini podem trazer a reflexão sobre o tema.

Escutas telefônicas não autorizadas, compra de armas e drogas. Até onde pode chegar um jornalista para cumprir uma pauta? Essa pergunta se faz presente, principalmente, no jornalismo investigativo. Quais são os limites de uma reportagem?

Alguns casos podem trazer a reflexão sobre o assunto. Como o ocorrido mês passado com Roberto Cabrini. O jornalista foi encontrado na periferia da zona sul de São Paulo, no dia 15/04, com 10 papelotes de cocaína. A policia o deteu por tráfico de drogas e porte de entorpecentes.

Cabrini afirmou que a droga foi “plantada” em seu carro, fazendo parte de uma armação, e que fazia uma reportagem investigativa sobre tráfico de drogas, a mesma versão foi dada pela rede Record, emissora em que trabalha. No dia 17/04, a Justiça de São Paulo concedeu habeas corpus ao jornalista.

Outro caso, que aconteceu há nove anos, foi o do repórter Silvio Carvalho, do jornal A Gazeta, do Mato Grosso. Carvalho comprou um revólver no comércio clandestino de armas em Cuiabá. O repórter se passou por um “cliente” comum. Disse ao vendedor que tinha sido assaltado e por isso buscava uma arma para se defender. A chefia de reportagem o orientou a encaminhar o revólver ao Fórum Criminal. Menos de uma hora após a compra, Carvalho entregou a arma ao juiz Rondon Bassil.

O recurso não foi favorável. O jornalista foi punido com medidas como, não poder sair de casa após as 23h, não passar mais de 30 dias fora de Cuiabá, doar cestas básicas a uma instituição de caridade pelo período de seis meses, e, além disso, comparecer uma vez por mês ao Fórum Criminal para comprovar o cumprimento da sentença. Carvalho foi acusado de porte ilegal de arma. Segundo ele, a intenção era denunciar a venda fácil de armamentos ilegais.

Para Fernando Molica, diretor da Associação Brasileira de jornalismo investigativo (ABRAJI), é difícil estabelecer regras diante de situações delicadas. Para ele o jornalista tem que respeitar os limites, mas a regra é o bom senso. “O jornalista deve avaliar o custo-benefício e nunca tomar decisões individuais, mas junto com a chefia de reportagem”, afirma.



A Escola da Comunicação lançou algumas perguntas pertinentes no site, e alguns jornalistas responderam.


independente de qualquer circunstância, qual o limite que um repórter deve impor para cumprir sua pauta? A maioria acredita que o repórter nunca deve ultrapassar os limites da lei. Confira algumas:

“O bom profissional é aquele que defende o seu trabalho com unhas e dentes, abraça a carreira e respeita a empresa em que atua. Se é necessário andarmos com droga ou adquirir um fuzil AR-15 para que o nosso trabalho seja concluído com bons resultados e profissionalismo, então... que se faça!”
Marcelo Ono, repórter

“A maioria espera que nós resolvamos o problema e não os competentes. Por isso, sentimos que devemos agir como super heróis e ir além do que deveríamos ir em princípio (...) E como é sabido, mexer com gente sem escrúpulos nos deixa fragilizados e sabemos que se colocarmos o dedo na ferida estamos sujeitos a sofrer penalidades...”
Ludmila Bahia, diretora de jornalismo, NTV

“Se envolver no crime, ou qualquer outra situação transgressora de forma supervisionada e protegida é ofício da polícia, dos que lidam com a imposição da Lei. Jornalista tem o dever de noticiar, denunciar, mas investigar a ponto de se envolver de forma escusa não concordo”
Patrícia Xavier, assessora da Câmara de vereadores de Timbó, SC

“Acho que para investigar, infelizmente, por um momento é preciso fazer parte da história, mas acredito que a investigação não acaba com a denúncia. A segunda parte, a pós-matéria ou a pós venda, não acontece na maioria das vezes”
Sheila da Silva, repórter, Rádio Bandeirantes

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