quinta-feira, 6 de março de 2008

Jornalistas falam sobre a linguagem politicamente incorreta na mídia

Fonte: Comunique-se

Discriminação é algo que não deve fazer parte do trabalho do jornalista, mas é comum ver palavras que denotam preconceito na mídia. Muitas vezes, sem que o profissional perceba, acaba seguindo estereótipos e usando linguagem comum a sua cultura, que apesar de muito usada, na opinião de muitos, revela preconceito.

Palavras ou expressões como "denegrir", "favelado", "lista negra", "humor negro" podem ser encaradas como preconceituosas, mas o assunto gera discussões. Eduardo Martins, autor do Manual de Redação e Estilo do Estadão, afirma que o uso da palavra denegrir não revela preconceito, porque a origem da palavra está associada à coloração negra e não à etnia. "A palavra denegrir não se refere aos negros. Esse termo teve origem no século XV, quando ainda não havia escravidão no Brasil. Nem todas expressões se referem ao negro como etnia", explica.

O termo "judiar" é raramente usado pelos jornais e revistas, somente em citações das fontes, raramente pelo próprio jornalista. "A palavra judiar vem literalmente de judeu e deve ser evitada. Há muitas outras palavras que podem substituir este termo", complementa o autor do Manual de Redação e Estilo do Estadão.

Uma expressão muito usada é "lista negra". Esta é uma das mais comuns em diversos veículos. A Folha Online traz um exemplo na matéria: "Obras sob suspeita devem ser cortadas do Orçamento; 43 estão nessa situação". Publicada no dia 18/01, a matéria encerra com a frase: "A obra saiu da lista negra do TCU e os recursos poderão entrar no Orçamento da União de 2008".

Há também matérias que denotam preconceito contra religião, cultura ou nacionalidade. Usa-se a palavra "terrorista" nos mais diferentes contextos, sem que muitas vezes ela tenha sentido. O preconceito contra nacionalidade também é visível na mídia. É o caso do Paraguai: tudo o que é falso e de baixa qualidade é relacionado ao país vizinho. Exemplo disso é uma matéria da Revista Veja de 21 de junho de 2001. Um box intitulado "Made in Paraguai" traz um ranking dos 10 países que mais falsificam programas de computador.

A Revista Época de 28/01 deste ano traz, na matéria intitulada "Depressão e alívio", um infográfico com o seguinte título: "Janeiro negro". A palavra negro se destaca em negrito. A matéria trata da crise no mercado financeiro, e usa a expressão para relacionar o período negativo. "Acredito que deve-se evitar toda palavra ou expressão que coloque a palavra negro de forma negativa", afirma Paulo Pinto, secretário-geral da ONG Soweto.

"As pessoas cometem na profissão os mesmos erros que cometem na sociedade", afirma Tereza Rangel, ombudsman do UOL. "Muitas vezes ao se evitar um preconceito acaba-se reforçando a discriminação. É o caso da palavra afrodescendente. Por que não se usa eurodescendente ou outras expressões?", indaga.

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