quarta-feira, 23 de abril de 2008

A arte do fato

Fonte: Blog de Daniel Piza

Em tempos de imprensa fofoqueira e leviana, nada melhor do que ler os maiores jornalistas da história. A editora José Olympio acaba de publicar no Brasil O Grande Livro do Jornalismo, editado por Jon E. Lewis (tradução de Marcos Santarrita), com o que chama de "55 obras-primas dos melhores escritores e jornalistas". Com exceção de Charles Dickens (sobre uma decapitação em Roma em 1845), Winston Churchill (sobre sua fuga da guerra na África do Sul em 1899) e alguns outros eleitos como precursores, além do hors-concours George Orwell (trecho de The Road to Wigan Pier), os textos são quase todos de jornalistas americanos. Conheço antologias melhores, como The Art of Fact (editado por Ben Yagoda, 1998), mas em português, não.

Há famosos como Jack London testemunhando o terremoto de São Francisco, John Reed cobrindo a Revolução Russa, John Hersey visitando Hiroshima um ano depois da bomba, John dos Passos na Marcha da Fome de 1931, William Shirer sobre a rendição francesa aos nazistas, Seymour Hersh revelando o massacre de My Lai e Hunter Thompson na Convenção Republicana de 1972. Mais importante, há desde crítica literária (Dorothy Parker defendendo os contos de Hemingway) até textos sobre esportes (Jonathan Mitchell sobre o boxeador Joe Louis) e relatos pessoais de viagem (Jon Krakauer e sua escalada), além de artigos e miniensaios (Norman Mailer sobre Bob Kennedy).

Isso tudo contrasta com o que ainda se pensa no Brasil sobre o que é ou não jornalismo. Há vários tipos de reportagem, das mais diretas às mais interpretativas, e jornalismo de opinião é, claro, jornalismo. O volume também serve para lembrar como o jornalismo pode ser instrumento e experiência para escritores de ficção. Além de Dickens, London, Dos Passos e Mailer, estão ali Stephen Crane, John Steinbeck, Gore Vidal e outros. E entre os grandes jornalistas vivos, além de Hersh, o destaque é para Robert Fisk, único com dois textos (massacre de palestinos em 1982 e invasão do Iraque em 2003). Bom jornalismo faz história e sobrevive em qualquer suporte.

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