sábado, 27 de setembro de 2008

Caos na Ibovespa é sinônimo de terrorismo na Imprensa

Por Carolina Lima, Gustavo Oliveira, Priscila Botão e Rayanne Portugal
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Nesta terça-feira (9/9) uma crise abalou a nossa economia neoliberalista. Segundo os jornais mais lidos brasileiros, o problema ocorreu “depois que os preços de commodities sofreram queda”. As quedas de preços das matérias primas como gás natural, petróleo e metais derrubaram o índice do Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores do país. Com o resultado desta terça, a bolsa paulista acumula queda de 13% em setembro e 24,1% no ano. Na véspera, o desempenho do mercado brasileiro já havia sido ruim: baixa de 3,96%.


Realmente, matérias de economia são difíceis de engolir. Expressões como “commodities” ou “índice de desvalorização” provocam uma fuga em massa da sala de TV. Pensando nesse fenômeno, é comum ver meios de comunicação populares como o Jornal Nacional e Jornal da Record tentando simplificar o tema para que o telespectador não se sinta tão burro.


Segundo o JN, nossa economia estava seguindo “o caminho vermelho para o fundo do poço” e que “o dólar era o culpado”. Já o Jornal da Record fez uma análise tanto quanto mediana, citando mais as bolsas internacionais do que a própria Ibovespa.


Este tema deu muito pano para manga porque o Ibovespa permaneceu no vermelho. O Jornal da Record voltou a falar sobre o assunto na quinta-feira da mesma semana e deu um pouco mais de crédito aos problemas do Brasil. Contudo, o JN não se preocupou em dar mais detalhes sobre o assunto.


Diferente do ocorrido no horário nobre, o Jornal da Globo superou a expectativa de ambos jornais, explicando com detalhes claros a situação em que o Ibovespa se encontrava e indicando as futuras saídas para a bolsa paulista. A matéria de 6 minutos trouxe um analista que falou economês por longos 3 minutos. Pelo menos deixaram para o analista a parte complicada. Nos dias seguintes, quarta e quinta-feira, o jornal ainda voltou ao assunto.



ALL NEWS

Band News e CBN mostraram tudo que era importante comentar, além de citar os preços cotados nas bolsas no final do dia. A Band News voltou com o mesmo tema na quarta-feira, dando uma cobertura mais apurada ao assunto, mas não voltou a falar sobre.


A CBN pode receber mais créditos porque acompanhou o desenvolvimento mais vezes durante a semana. Apoiada em vários comentaristas e especialistas, ela produziu matérias que variavam de cinco a doze minutos de duração – consideradas grandes para uma rádio. A rádio analisou de forma mais clara e conseguiu explicar em minúcias os pontos que ficaram brancos na cabeça dos ouvintes.



CAOS NO IMPRESSO?

Primeiro dia de crise. Matérias desesperadas nas capas das sessões de economia. O Globo disse Dias sombrios no império; O Estado de São Paulo explica: “Temor sobre expansão global aumenta e analistas já vêem pânico”. Os jornalistas não pouparam palavras desse tipo nas páginas completas do primeiro dia após o “caos” trazido pela queda.


Em O Estado de São Paulo, levamos duas colunas inteiras para ouvir a palavra commodities, termo tão explicado nas outras mídias. A queda é diretamente ligada à alta do dólar sem, no entanto, ser explicado o porquê.


O Globo conta como o pessimismo gerado na economia americana, devido à crise nas hipotecas do país, levou a Bovespa à queda. Ponto! Mas ponto perdido ao continuar a leitura cheia de números e análises pouco claras.


Mas engraçado como o jornal disse que o caos estava instalado: o dia seguinte desmentiu o desespero. Com a chamada “Bovespa reage e dólar também sobe”, O Estado de São Paulo volta ao assunto em seu pobre único parágrafo cheio de números. Poderíamos perguntar a Claudia Violante, Denise Abarca e Paula Laier, jornalistas que assinaram a matéria, de onde foi o release resumido.

Negócios suspeitos sob as asas da Varig

Por Guilherme de Castro, Eduardo Melo e Tiago Viegas
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Internautas, hoje vamos falar sobre a cobertura jornalística com relação à denúncia de suposta irregularidade na compra da empresa Varig pelo grupo Varig Log.


A ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu afirmou ao jornal “Estado de S. Paulo” que a Casa Civil pressionou a Anac para aprovar a venda da companhia aérea ao fundo norte-americano Martlin Patterson associado a três empresários brasileiros, acionários da VarigLog.


Segundo Denise, a ministra Dilma Rousseff defendeu a omissão da nacionalidade dos recursos empregados pelos novos líderes da empresa e a participação de cada um nas ações da viação aérea, a fim de burlar a legislação brasileira.


Para nós, é legítimo o foco jornalístico sobre a legalidade ou não da compra da Varig. Mas falta o principal: os veículos não questionam os órgãos públicos responsáveis pelo serviço aéreo brasileiro a respeito da estrutura deficiente da aviação no país.


Esperamos que a resposta não venha por meio de mais um desastre aéreo como o da Serra do Cachimbo ou do Aeroporto de Congonhas.

Eleições x Mídia - Façam suas apostas

Por Ana Cândida, Caroline Morais, Fabíola Souza, Letícia Menezes, Luana Carvalho e Morena Mascarenhas
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Eleições americanas são sempre uma boa razão para falar mal dos Estados Unidos. Desta vez entretanto, a disputa está entre os veículos de comunicação. Round 1: CBN Brasil x Band News FM. De um lado do ringue, Band News representa os pesos pena. Com notas curtas e pouca informação, não parece adversário a altura da cobertura completa da CBN Brasil. A representante dos pesos pesados, preocupou-se em apresentar matérias completas, com opiniões de especialistas. Quase diariamente, a rádio recebeu auxílio técnico de colunistas como Arnaldo Jabor e André Trigueiro.

A cobertura dos telejornais, por outro lado, pareceu mais um carteado de comadres. De feijãozinho em feijãozinho, o Jornal da Record saiu na frente com a cobertura. Celso Freitas e Adriana Araújo apresentaram três matérias sobre o tema ao longo da semana. Durante o telejornal, uma matéria sobre a crise econômica no país foi gancho para comentários sobre as eleições.
Na quarta-feira, uma matéria sobre a vice de McCain, fo(fo)cava nos óculos de Sarah Palin. Desde o começo da campanha, o modelo quadruplicou em vendas. Até o Jornal da Globo, que incrivelmente não soltou nenhuma matéria sobre as eleições americanas, deu atenção à queridinha de McCain. A única chamada sobre o tema foi uma charge sobre a escolha da governadora do Alaska como vice.

Para os veículos impressos, Correio Braziliense x Jornal de Brasília. Ambos comentaram poucas vezes assuntos relacionados com as eleições. Mais ocupados com as preocupações de sempre, Evo Morales e Hugo Chávez ofuscaram Obama e McCain. Com o resto de brilho que sobrou, os candidatos ainda fizeram render os ataques do Washington Post à Sarah Palin. Apesar da aparente vitória que a candidata teria nas urnas, Obama é o queridinho no resto do mundo. Uma pesquisa em 22 países teria apontado o candidato com 49% de apoio.

Para quem não acompanhou a evolução da campanha, a Folha online conta com um histórico invejável de publicações, perfis, rumores, intenções de voto, históricos, opiniões sobre os candidatos, tudo. Quando você já estiver cansado de ler, desça mais um pouquinho e ache um “leia mais”. Poucos elementos visuais, mas sempre atualizada com notícias em formatos menores e informações precisas.

Como o duelo é de titãs, o G1, portal online da Globo, faz das eleições um novo Big Brother. Embora o caminho seja mais longo para ter acesso às informações - diferente da Folha que linka direto da home -, o investimento vale a pena. Você procura na home. Clica em Mundo. Clica em Cobertura completa das eleições americanas blábláblá. Clica ali. Mais ali. Quase desiste e... achou. Eis o verdadeiro oásis das eleições nos EUA. Os números mais recentes, a disputa nos estados, imagens antigas dos candidatos – Obama como um dos Jacksons Five e McCain um partidão hollywoodiano -, a trajetória dos candidatos, vídeos, fofocas, tudo. Um passo a passo completo, e cada pegada com sua respectiva foto. Isso é a Globo.

Grampos, escutas e tesouras

Por Anônimos da Silva


Concordamos que o Congresso está sempre agitado, pelo menos das segundas às quartas-feiras, quando tem alguém trabalhando por lá. Mas ultimamente, os corredores de lá se agitam com a CPI dos Grampos, não o de cabelo, claro. Ao contrário do seu primo capilar, o grampo telefônico salta para um universo de agentes da PF, ABIN e por fim, a imprensa (leia-se todo o resto do mundo), uma conversa que deveria se restringir a apenas duas pessoas, localizadas em cada uma das pontas de uma linha de telefone. E daí surgem aquelas matérias nos telejornais que mostram diálogos exibidos com legendas ipsis litteris do que está sendo dito - coisa que particularmente adoro, principalmente quando a conversa é entre traficantes que falam “abacaxi” querendo dizer “vinte quilos da mais pura cocaína boliviana”.

Voltando ao colarinho branco (no caso de Protógenes Queiroz, uma camisa de feira com paletó improvisado), a ABIN está sendo encurralada por todos os cantos para explicar as dúzias de grampos feitos nas mais diversas investigações. Por incrível que possa parecer, a Globo não apontou o dedo na cara de ninguém acintosamente, limitando-se a contar as notícias mais fresquinhas das investigações. Gilmar Mendes posa como o mais ofendido dos seres humanos, e o Jornal Nacional lhe dá todo o espaço possível. Entre os dias seis e dez de setembro (o assunto foi ignorado dia 11) o JN foi mostrando os desdobramentos do caso. Relatou o depoimento do ex-diretor da ABIN, Paulo Lacerda e o envolvimento do Delegado Protógenes - parece nome de personagem de novela da plim-plim, concorda? – da Polícia Federal, que foi envolvido no caso e não sai dos holofotes da imprensa desde a “Operação Satiagraha”, por mais que sua falta de jeito com as câmeras entregue que ele prefere ficar fazendo seus cursos da PF sem ser notado. Só para fechar o comentário sobre o Jornal Nacional, o depoimento de Lacerda, que parecia ser o grande barato da coisa toda, foi mostrado quase que como um detalhe. Do depoimento do ex-diretor, saiu apenas que ele afirmou que a ABIN não tinha equipamentos específicos para fazer escutas telefônicas. Pouco ou nenhum destaque para um fato aparentemente tão importante para o caso.

Ainda dentro do Império dos Marinho, o impresso O Globo foi contemporizando até os limites do enjoativo, contando as notícias retamente, sem pôr lenha na fogueira, sempre afirmando que fulano negou isso, cicrano negou aquilo...

A Folha de S. Paulo, por sua vez, cobriu intensamente o caso, chegando a interferir diretamente nas investigações, com sua cobertura. Se Tarso Genro, Ministro da Justiça, gosta de ver seu nome no jornal, a Folha lhe deu um prato cheio. Suas declarações tiveram destaque no impresso, que, de longe, fez uma cobertura mais completa e redondinha.

A versão menos popular do Jornal Nacional, o Jornal da Record, tentou contar toda a história da humanidade com os grampos telefônicos em um minuto e meio em cada edição. O telejornal do Bispo tentou socar todas as informações possíveis em um espaço curto de tempo, muito mais curto do que o assunto merecia. Acabou falando tudo e não atingiu o público em nada. Como diz o cantor e compositor brega Falcão, “ou é ou deixa de é”. Nesse caso, a Record não foi nem deixou de ir.
Pra piorar a situação, o repórter usava um tom de voz tendencioso, não parecendo se importar se o leitor tem um cérebro totalmente formado e quer tirar suas conclusões sozinho.

Para o público que cola o ouvido no radinho, a CBN cobriu com eficiência e conseguiu o que a Record não chegou nem perto. Em poucos minutos de matéria, as informações foram bem explicadas, bastante atuais e sem puxar a sardinha pro gato ou pro cachorro.

Resumindo, leia a Folha escutando a CBN que você estará catedrático em grampos telefônicos em pouquíssimo tempo.

O mundo pega fogo e (quase) ninguém fica sabendo

Por Amilton Leandro, Erik Lima, Nathalia Frensch, Raquel Bernardes e Marcelo Brandão.
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Deus sabe como eu gostaria de ter assistido a matéria do dia 15/09, no site do DFTV 2ª Edição sobre os incêndios causados pela forte seca no DF. Que Heráclito Fortes, o Jabba brasileiro, morra se não for verdade. Não foi disponibilizado nenhum vídeo na Internet. Infelizmente a “matéria” que achei foi só uma notinha pequenininha no site sobre um foco de incêndio – já controlado pelos bombeiros - em uma área próxima a Taguatinga. Foi uma nota tão pequena que se eu resumir para vocês vai sobrar só um punhado de letras, e se eu copiar aqui a Globo pode me acusar de plágio, e não quero mais processos na minha vida. Já basta um que estou respondendo por conta de uma confusão em um inferninho em Guadalajara. Mas isso não vem ao caso no momento. De qualquer forma, a cobertura deste dia foi tão superficial quando os pensamentos e preocupações de Paris Hilton. Em menos de quatro linhas completas, a notícia foi dada, sem qualquer aprofundamento. No dia 17, o DFTV dedicou-se um pouco mais ao assunto. Com mais informações, mas nenhuma grande cobertura. Satisfatório, apenas. A primeira edição do jornal deixou passar batido a pauta, ficando a cargo da segunda edição.

O jornal local da Record fez uma cobertura com um viés diferente. No dia 10/09 destacou aqueles prejudicados pelos incêndios dos quais nem ouvimos falar: os animais. Em determinado momento chegam a mostrar um tamanduá morto, queimado. Uma cena não muito agradável, diga-se de passagem. Só que à medida que a matéria vai se desenvolvendo, o lead vai pro saco, mudando misteriosamente. Deixa de ser os incêndios para se tornar unicamente os animais. Assim, começaram a falar dos atropelamentos a animais e as queimadas viraram história.

Nosso moderno sistema de monitoramento de rádios, que consiste em ficar mudando de uma estação para outra freneticamente até achar algo que preste, identificou apenas uma matéria que tratava do assunto. Foi no jornal Bandnews FM, em sua edição noturna. A galera do Saad deu uma matéria apenas, mas foi boa, completinha.

O Jornal de Brasília, famoso por ser infame, dedicou-se um pouco mais ao assunto. Praticamente todos os dias da semana compreendida entre os dias 15 e 19/09 trataram do assunto. Mas também não foi nenhuma cobertura digna de Prêmio Esso. Entrevistou alguns bombeiros e atribuiu o problema à falta de preparo dos fazendeiros, sobretudo. A característica especial ficou nas capas mais bem elaboradas que a própria matéria, com destaque para o dia 17, que publicou uma foto bem grande na frente, mas a matéria em si não ocupou nem meia página. Algo muito parecido com os programas que o SBT lança. Fazem um grande estardalhaço antes da estréia e quando você vê não é nada de mais.

O Correio Braziliense também não esqueceu o assunto. Não fez uma grande reportagem – o que ninguém fez, na verdade -, preferindo cobrir o assunto com doses homeopáticas ao longo da semana. Ainda assim algum destaque foi dado à dobradinha clima seco + irresponsabilidade = queimadas. Um jornalismo meio ambiental, meio público; um feijãozinho com arroz, que é meio obrigatório nesses casos. No dia 17, porém, o correio fez uma retrospectiva dos últimos 18 dias de seca e chamas. Cobertura positiva para o Correio, que um dia chegará ao nível da Folha e do Estadão. Podia ser melhor, mas está no caminho certo. Avante, filhos de Chateaubriant! Um dia acabaremos com a supremacia dos “mano”!