Concordamos que o Congresso está sempre agitado, pelo menos das segundas às quartas-feiras, quando tem alguém trabalhando por lá. Mas ultimamente, os corredores de lá se agitam com a CPI dos Grampos, não o de cabelo, claro. Ao contrário do seu primo capilar, o grampo telefônico salta para um universo de agentes da PF, ABIN e por fim, a imprensa (leia-se todo o resto do mundo), uma conversa que deveria se restringir a apenas duas pessoas, localizadas em cada uma das pontas de uma linha de telefone. E daí surgem aquelas matérias nos telejornais que mostram diálogos exibidos com legendas ipsis litteris do que está sendo dito - coisa que particularmente adoro, principalmente quando a conversa é entre traficantes que falam “abacaxi” querendo dizer “vinte quilos da mais pura cocaína boliviana”.
Voltando ao colarinho branco (no caso de Protógenes Queiroz, uma camisa de feira com paletó improvisado), a ABIN está sendo encurralada por todos os cantos para explicar as dúzias de grampos feitos nas mais diversas investigações. Por incrível que possa parecer, a Globo não apontou o dedo na cara de ninguém acintosamente, limitando-se a contar as notícias mais fresquinhas das investigações. Gilmar Mendes posa como o mais ofendido dos seres humanos, e o Jornal Nacional lhe dá todo o espaço possível. Entre os dias seis e dez de setembro (o assunto foi ignorado dia 11) o JN foi mostrando os desdobramentos do caso. Relatou o depoimento do ex-diretor da ABIN, Paulo Lacerda e o envolvimento do Delegado Protógenes - parece nome de personagem de novela da plim-plim, concorda? – da Polícia Federal, que foi envolvido no caso e não sai dos holofotes da imprensa desde a “Operação Satiagraha”, por mais que sua falta de jeito com as câmeras entregue que ele prefere ficar fazendo seus cursos da PF sem ser notado. Só para fechar o comentário sobre o Jornal Nacional, o depoimento de Lacerda, que parecia ser o grande barato da coisa toda, foi mostrado quase que como um detalhe. Do depoimento do ex-diretor, saiu apenas que ele afirmou que a ABIN não tinha equipamentos específicos para fazer escutas telefônicas. Pouco ou nenhum destaque para um fato aparentemente tão importante para o caso.
Ainda dentro do Império dos Marinho, o impresso O Globo foi contemporizando até os limites do enjoativo, contando as notícias retamente, sem pôr lenha na fogueira, sempre afirmando que fulano negou isso, cicrano negou aquilo...
A Folha de S. Paulo, por sua vez, cobriu intensamente o caso, chegando a interferir diretamente nas investigações, com sua cobertura. Se Tarso Genro, Ministro da Justiça, gosta de ver seu nome no jornal, a Folha lhe deu um prato cheio. Suas declarações tiveram destaque no impresso, que, de longe, fez uma cobertura mais completa e redondinha.
A versão menos popular do Jornal Nacional, o Jornal da Record, tentou contar toda a história da humanidade com os grampos telefônicos em um minuto e meio em cada edição. O telejornal do Bispo tentou socar todas as informações possíveis em um espaço curto de tempo, muito mais curto do que o assunto merecia. Acabou falando tudo e não atingiu o público em nada. Como diz o cantor e compositor brega Falcão, “ou é ou deixa de é”. Nesse caso, a Record não foi nem deixou de ir.
Pra piorar a situação, o repórter usava um tom de voz tendencioso, não parecendo se importar se o leitor tem um cérebro totalmente formado e quer tirar suas conclusões sozinho.
Pra piorar a situação, o repórter usava um tom de voz tendencioso, não parecendo se importar se o leitor tem um cérebro totalmente formado e quer tirar suas conclusões sozinho.
Para o público que cola o ouvido no radinho, a CBN cobriu com eficiência e conseguiu o que a Record não chegou nem perto. Em poucos minutos de matéria, as informações foram bem explicadas, bastante atuais e sem puxar a sardinha pro gato ou pro cachorro.
Resumindo, leia a Folha escutando a CBN que você estará catedrático em grampos telefônicos em pouquíssimo tempo.
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