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Com direção de Miriam Chnaiderman e Reinaldo Pinheiro, Sobreviventes é um documentário de impacto que chama a atenção nos casos mostrados. De um modo aparentemente conceitual, o trabalho seleciona e registra depoimentos de pessoas que passaram por situações-limite e sobreviveram a elas.
O espectador poderá conhecer experiências variadas e aos poucos, ampliar a proposta do documentário, da demonstração de um conceito sob um modo ilustrativo para algo mais indefinível, menos palpável e nem por isso reduzido ao abstrato.
"Todo homem tem um fracasso na vida"
“Sobreviver”, define o dicionário, é “continuar a viver, a ser, a existir, depois de outras pessoas ou de outras coisas”. Desta definição, o trabalho de Chnaiderman e Pinheiro se concentra, na condução das entrevistas e na edição, em dois termos-chave: “continuar” e “depois”.
A sucessão de histórias nos permite compreender que duas forças estão em jogo nas situações de sobrevivência, que para continuar a existir é preciso insistir depois de algo que bloqueia ou lança a vida na contramão.
Os testemunhos, no entanto, não se reduzem a ilustrações de casos de pós-quase-morte. O que vemos são os que fingiram de mortos para continuar a viver, os que foram dados como mortos, mas que de fato não haviam morrido, os condenados a morrer precocemente e que, porém, continuam aí compartilhando vida. E há também os que perderam tudo - casa, filhos, liberdade, o direito de circular e de existir, como os prisioneiros torturados por nossas ditaduras.
Com essa sobreposição de histórias e sentidos da sobrevida, “Sobreviventes” nos permite desligar aos poucos da mera contação de casos e alcançar algo mais significativo: aquilo a que agarramos com força quando a morte mostra sua cara.
Vale a pena assistir.