sexta-feira, 17 de abril de 2009

Solta o Verbo



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É brincadeira

É de se espantar. Ontem fui ao centro da cidade (Brasília) e acabei topando com um amigo de ensino fundamental. Com ele, havia um jornal do Correio Brasiliense. Perguntei-lhe se gostava de ler jornal e ele disse que sim, principalmente colunas e opinião. No entanto, ele ficou desapontado com uma certa coluna que saiu neste sábado.

Fiquei intrigado e decidi ver o que estava escrito. A coluna Conexão Diplomática sob o título "Tá faltando 'ele'".

No primeiro parágrafo, um susto: "À mesa da 5ª Cúpula das Américas, no próximo fim de semana, Raúl Castro vai estar tão presente quanto Jacob do Bandolim no samba dedicado a ele pelo filho, Sérgio Bittencourt, na voz de Nelson Gonçalves..." Aparentemente, o que a coluna quis dizer é que Raúl Castro não estará na Cúpula. Assim como Jacob do Bandolim não estava mais "naquela mesa" (tema de uma música composta por Sérgio Bittencourt - filho de Jacob e consagrada por Nelson Gonçalves).
Talvez alguem tenha esquecido, mas referências que ninguem entende não podem ser referências. Poupe as analogias e deixe-as aos que saibam usar.


O texto continua e não melhora. No entanto, o segundo parágrafo me chama atençaõ: "A movimentação das últimas semanas, a costura da declaração final e os acertos mais sutis de bastidores — tudo indica que soou o sinal e a cortina vai subir para o novo ato neste drama que se desenrola há 50 anos. O enredo se desenvolvia desde a campanha pela Casa Branca, quando Barack Obama inseriu “diplomacia” e “diálogo” na trama. A América Latina não deixou passar a “deixa” e decidiu chamar Cuba para o palco. Obama e Lula, que se encantaram e encantaram o público em duas aparições, voltam a contracenar, agora com elenco completo. Ou quase: Raúl, terceiro vértice do triângulo, estará “na boca de todos”, como disse em visita a Brasília o premiê anfitrião, Patrick Manning."

Desta vez, senhor Silvio "caiu do palco". Nunca vi tanta analogia e tanto trocadilho de baixo humor junto.


Para dar fim a maratona, o último parágrafo é o mais misterioso: "Pela maneira furtiva como vem sendo conduzida, de que foi exemplo a quase anônima passagem por Brasília do novo chanceler cubano, Bruno Rodríguez, a reintegração da ilha ao processo interamericano real lembra a brincadeira do “lenço atrás”. No jogo infantil, os participantes formam uma roda que um deles contorna, por fora e pelas costas dos demais, que cantam. O “de fora” leva na mão um lencinho e escolhe o momento para deixá-lo cair atrás de um dos outros, que ao percebê-lo correrá para alcançá-lo antes que tome o lugar aberto na roda. Deixar cair o lenço, pouca gente sabe, era o truque das moças de bem para flertar, no tempo do Brasil colonial e monárquico."

Neste momento fui atrás de livros de história e antropologia. Como se diz nas escolas de jornalismo, até em colunas e cadernos de opinião a regra de mostrar idéias claras e objetivas não devem ser descartadas. Mas às vezes a gente entende, que sair um pouco da rotina e estrapolar pode dar certo. Somente "às vezes"

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