quarta-feira, 1 de julho de 2009

Solta o verbo


Este texto foi retirado de um Blog (com letra maiúscula mesmo) de uma amiga minha. Não é para puxar-o-saco de ninguem, mas isso me pareceu bem pertinente à opinião pública.

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O que esperar de um jornalista?


Venho mais uma vez expôr como é torta a profissão que escolhi e como são tortos tantos colegas. Nem sei por que ainda insisto em bater nessa tecla, nem sei por que ainda insisto nesse ofício que mal comecei. Quando mudei de curso achei ter descoberto minha vocação. Falar sobre gente, falar sobre seus dramas, falar sobre a realidade que é crua mas tem exemplos válidos. Falar sobre aqueles que não têm quem fale por eles. Por isso fui até os Avá-Canoeiros, no norte de Goiás. Por isso, desde antes, tenho andado e venho andando.Mas são situações como a de hoje que me tiram o sono, que me deixam amendrontada com tão negativo aspecto de ser jornalista.


Nesta fatídica terça-feira, tive uma amiga jornalista, recém-formada como eu, acusada de plágio. Não só acusada. Seu nome rodou sites, portais e todo o boca-a-boca virtual possível.Seu twitter, orkut e flog foram hackeados ou suspensos. E com raríssimas exceções encontrei análises coerentes sobre o acontecido. Na grande maioria de palpiteiros, fiscais e juízes donos da verdade, ou melhor dizendo, na grande maioria, os colegas achincalharam-na. Pediram sua cabeça. Rogaram infortúnios e desgraças à sua carreira. E fizeram toda sorte de comentários maldosos que se pode imaginar.


Com uma feliz exceção, minha amiga e colega de profissão já foi julgada e condenada ao Hades pelo Supremo Tribunal dos Jornalistas do Diploma de Um Vintém. Ninguém se perguntou como esses plágios foram feitos, como foram possíveis? Ninguém se pronunciou sequer sobre o jornal em que ela trabalha, também citado nas matérias.


Pergunto sem mais delongas: um jornalista, principalmente recém-formado, sem nome tem o quê? Plágio é coisa séria. Seríssima. É crime. E deve ser tratado como tal. Mas que coloquemos os pingos nos is. Quem apurou se foi ela quem fez? O nome dela consta em vários lugares, mas vamos ser francos, como um chefe em sã consciência deixaria o mesmo “erro” passar tantas e tantas vezes? Sejamos mais francos ainda, quem aqui jamais presenciou uma típica cena de “copie, altere um bocado e cole” em uma redação? (Sei que falo para muitos comunicólogos). Pelo que posso imaginar, ao que tudo indica, nunca vi jornalista, que era estagiária até seis meses atrás, assumir sozinha uma editoria sem que o chefe não dê o crivo final, ali, edição a edição. Chefe é famoso por dizer o que entra, o que sai, o que fica, como fica.


Preciso dizer que o jornal em que ela trabalha tem fins políticos? Que ou é “da situação” ou é “da oposição” - maniqueísta assim? Como muitas redações pelo Brasil, costuma atrasar salários e enxugar o número de profissionais, incentivando aquele moderno status do “jornalista multimídia”, ou em outras palavras, aquele que “canta, dança, sapateia e faz piada”.


Essa amiga jornalista sempre quis cobrir cultura. Desde que a conheço investe em conhecimento na área, consome discos, livros, conteúdo. Viaja para festivais e eventos, tantas vezes arcando do próprio bolso. Seria numa cidade grande, uma daquelas blogueiras referenciais sobre o último disco de fulano ou o próximo filme de cicrano.


Mas ela mora em um estado noviço demais. Estado que abandonei quando vi que pouco teríamos a nos oferecer um ao outro. Guardo uma nostalgia e ostento minha torcida por um futuro melhor, mas confesso que em momentos como esse me vem um triste desencanto e relembro o motivo de escolher acompanhá-lo à distância.

Já falei dele em outros posts, em outras freguesias, mas não custa lembrar sobre a sua incipiência. Tenho muitos amigos jornalistas recém-formados por lá que ou estão trabalhando em outra área, ou continuam em seus empregos. Com um baixo número de jornais e assessorias e com todos servindo aos meus interesses políticos, a liberdade e autonomia jornalística passam léguas e léguas de distância.


O jornal em que minha amiga trabalha e onde fazia o caderno de cultura, teve vários e vários plágios denunciados por um famoso portal de comunicadores. Embora a denúncia tenha apontado as páginas de cultura, outras tantas editorias abusam do mesmo recurso, o “copia e cola” de sites e blogs da internet. Procurados pelos sites e blogs plagiados, um editor-chefe alegou vários motivos para o descabido erro. “A jornalista é iniciante”, ”os chefes não sabiam”, ”isso jamais aconteceu”, “será feita retratação” e tal e tal e tal. Ela aparece pedindo desculpas e dizendo que se enganou. Não fala muito mais do que isso, mas todos sabemos como se tratam os “cafés pequenos”.


Atendendo a pedidos, ela provavelmente será substituída. Guardará em silêncio toda essa penúria enquanto tentará encontrar algo para continuar fazendo. O jornal, bem, esse será só mais um escândalo, mais um mal bocado. Vão-se os jornalistas, ficam os plágios?!


Plágio é crime e talvez renda processo. Para o jornal, não sei o quanto a credibilidade ficará abalada. Mas para a jornalista? Com o nome enlameado nas ruas da Medina? Não sei. Obviamente, os nobres colegas tampouco sabem, mas essa parece ser a lei do mais forte e do mais esperto. Ruim é pensar que agora, sem a exigência do diploma, a situação tende a piorar. Se antes, qualquer jornaleco de político tinha que colocar pelo menos um jornalista no meio de uma pilha de estagiários, agora nem isso, nem estagiários e nem jornalista, só “as forças políticas”.E os jornalistas o que fizeram? Como era de se esperar para a polícia social, que não só denuncia, como julga e setencia, a classe não fez nada. Alguns revoltosos, metidos a corporativismo e coleguismo se puseram a marchar e levantar a voz contra a decisão do Supremo, mas meia dúzia de andorinhas ainda não pode fazer verão. Já meia dúzia de urubus? Chafurdam bonito sobre o defunto.


Acho tão raro de se ver um profissional de outra área falando mal abertamente de um colega. Seja ele taxista, professor ou médico. E se o faz, presumo que seja por bom senso, por parcimônia, por saber que esse mundo gira e qualquer um está sujeito ao erro, infelizmente. Mas os jornalistas devem ser seres superiores e perfeitos.

Infelizmente, não sei a quê se deve essa mentalidade de “tubarão na caça”, mas sinceramente, muito me desaponta. Poderia citar muitas exceções, felizmente. Inclusive tenho convivido com jornalistas de alto quilate, de generosidade e competência. Aliás, peço perdão a eles por chamar aos outros, contra quem dirijo meu lamento, de jornalistas. Vocês sim, são jornalistas. Esses outros? O que são? Não sei.


Reparem que não estou minimizando o crime de plágio. Mas critico mais uma vez à categoria.Aos jornalistas, esses que senhores da verdade, são tão rápidos em criticar, em apontar o dedo em riste, em condenar, em setenciar… Mas são tão lentos, tão lentíssimos em buscar compreender melhor criticamente quem são todos os elementos da situação apontada. E mais lentos ainda em se unir e buscar melhores condições de trabalho. Condições mais dignas, mais éticas e mais corretas para todos.

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